17 de dezembro de 2012

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - Allan Kardec

CAPÍTULO I - EU NÃO VIM DESTRUIR A LEI
Cristo
3. Jesus não veio destruir a lei, quer dizer, a lei de Deus; ele veio cumpri-la, quer dizer, devolvê-la, dar-lhe seu verdadeiro sentido, e apropriá-la ao grau de adiantamento dos homens; por isso, se encontra nessa lei o princípio dos deveres para com Deus e para com o próximo, que constituem a base de sua doutrina. Quanto às leis de Moisés, propriamente ditas, ao contrário, ele as modificou profundamente, seja no fundo, seja na forma; combateu constantemente o abuso das práticas exteriores e as falsas interpretações, e não poderia fazê-las sofrer uma reforma mais radical do que as reduzindo a estas palavras: "Amar a Deus acima de todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo", e dizendo: aí está toda a lei e os profetas.
CAPÍTULO II - MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
Ponto de vista
5. A ideia clara e precisa que se faz da vida futura dá uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem consequências imensas sobre a moralização dos homens, quando muda completamente o ponto de vista sob o qual eles examinam a vida terrestre. Para aquele que se coloca pelo pensamento, na vida espiritual que é indefinida, a vida corporal não é mais que uma passagem, uma curta estação num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da vida não são mais que incidente que recebe com paciência, porque sabe que não são senão de curta duração, e devem ser seguidos de um estado mais feliz; a morte nada mais tem de apavorante, e não é mais a porta do nada, mas a da libertação que abre, ao exilado, a entrada de uma morada de felicidade e de paz. Sabendo que está em um lugar temporário, e não definitivo, recebe as inquietações da vida com mais indiferença, e disso resulta, para ele, uma calma de espírito que lhe atenua a amargura.
CAPÍTULO III - HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI
Diferentes Estados de Alma na Erraticidade
2. A casa do Pai é o Universo; as diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito, e oferecem, aos Espíritos encarnados, moradas apropriadas ao seu adiantamento.
Independentemente da diversidade dos mundos, essas palavras podem também ser entendidas como o estado feliz ou infeliz do Espírito na erraticidade. Segundo ele seja mais ou menos depurado e desligado dos laços materiais, o meio em que se encontra, o aspecto das coisas, as sensações que experimenta, as percepções que possui, variam ao infinito; enquanto que uns não podem se distanciar da esfera em que viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto certos Espíritos culpados erram nas trevas, os felizes gozam de uma claridade resplandecente e do sublime espetáculo do infinito; enquanto, enfim, que o mau, atormentado de remorsos e lamentações, frequentemente só, sem consolação, separado dos objetos da sua afeição, geme sob o constrangimento dos sofrimentos morais, o justo, reunido àqueles que ama, goza as doçuras de uma indizível felicidade. Lá também há, pois, várias moradas, embora não sejam nem circunscritas nem localizadas.
CAPÍTULO IV - NINGUÉM PODE VER O REINO DE DEUS SE NÃO NASCER DE NOVO
Necessidade da Encarnação
25. A encarnação é uma punição, e não há senão Espíritos culpados que a ela estejam obrigados?
A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que possam cumprir, com a ajuda de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confiou; ela é necessária a eles mesmos porque a atividade que são obrigados a desempenhar ajuda o desenvolvimento da sua inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve considerar igualmente a todos os seus filhos; é por isso que dá a todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de agir; todo privilégio seria uma preferência, e toda preferência, uma injustiça. Mas a encarnação não é, para todos os Espíritos, senão um estado transitório; é uma tarefa que Deus lhes impõe, na sua entrada na vida, como primeira prova do uso que farão do seu livre-arbítrio. Aqueles que cumprem essa tarefa com zelo, vencem rapidamente, e menos penosamente, seus primeiros degraus da iniciação, e gozam mais cedo os frutos dos seus trabalhos. Aqueles, ao contrário, que fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concede, retardam seu adiantamento; é assim que, por sua obstinação, podem prolongar indefinidamente a necessidade de se reencarnar, e é, então, que a encarnação se torna um castigo. (SÃO LUÍS, Paris, 1859).
CAPÍTULO V - BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Instruções dos Espíritos

Bem e Mal Sofrer
18. Quando o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, que deles é o reino do céus", não se referia àqueles que sofrem em geral, porque todos aqueles que estão neste mundo sofrem, estejam sobre o trono ou sobre a palha; mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desencorajamento é uma falta; Deus vos recusa consolações porque vos falta coragem. A prece é um sustentáculo para a alma, porém, ela não basta: é preciso que esteja apoiada sobre uma fé viva na bondade de Deus. Frequentemente, ele vos disse que não colocava fardos pesados em ombros fracos; o fardo é proporcional às forças, como a recompensa será proporcional à resignação e à coragem; maior será a recompensa quanto à aflição não seja penosa; mas essa recompensa é preciso merecê-la, e é por isso que a vida está cheia de tribulações.
...
Bem-aventurados os aflitos pode, pois, ser traduzido assim; bem-aventurados aqueles que têm oportunidades de provarem sua fé, sua firmeza, sua perseverança e sua submissão à vontade de Deus, porque terão em cêntuplo a alegria que lhes falta na Terra, e depois do trabalho virá o repouso. (LACORDAIRE, Havre, 1863).
CAPÍTULO VI - O CRISTO CONSOLADOR
7. Sou o grande médico das almas, e venho vos trazer o remédio que deve curá-las; os fracos, os sofredores e os doentes são meus filhos prediletos, e venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados, e sereis aliviados e consolados; não procureis alhures a força e a consolação, porque o mundo não as pode dar. Deus fez, aos vossos corações, um apelo supremo pelo Espiritismo: escutai-o. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de vossas almas doloridas; são esses os monstros que se saciam de vosso sangue mais puro, e que vos ferem quase sempre mortalmente. Que no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis sua divina lei. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo do coração e, então, ele vos enviará seu filho bem-amado para vos instruir e vos dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho a vós porque me chamastes. (O ESPÍRITO DE VERDADE, Bordéus, 1861).
CAPÍTULO VII - BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
Mistérios Ocultos aos Sábios e aos Prudentes
8. Pode parecer singular que Jesus renda graças a Deus por ter revelado essas coisas aos mais simples e aos pequenos, que são os pobres de espírito, e de tê-las ocultado aos sábios e aos prudentes, mas aptos, em aparência, a compreendê-las. É preciso entender, porém, pelos primeiros, os humildes que se humilham diante de Deus, e não se creem superiores a todo mundo; e, pelos segundos, os orgulhosos, envaidecidos de sua ciência mundana, que se creem prudentes porque negam, tratando Deus de igual para igual quando não o negam; porque na antiguidade, prudente era sinônimo de sábio, por isso Deus lhes deixa a procura dos segredos da Terra, e revela os do céu aos mais simples e aos humildes, que se inclinam diante dele.

CAPÍTULO VIII - BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE TÊM PURO O CORAÇÃO
Deixai vir a mim as Criancinhas
3. A pureza do coração é inseparável da simplicidade e da humildade e exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho; por isso, Jesus toma a infância por emblema dessa pureza, como a tomou para o da humildade.
Essa comparação poderia não parecer justa, considerando-se que o Espírito da criança pode ser muito velho, e que traz, em renascendo, para a vida corporal, as imperfeições das quais não se despojou nas suas existências precedentes; só um Espírito que atingiu a perfeição poderia nos dar um modelo da verdadeira pureza. Contudo, ela é exata do ponto de vista da vida presente, porque a criancinha, não tendo ainda podido manifestar nenhuma tendência perversa, nos oferece a imagem da inocência e da candura. Também Jesus não diz de um modo absoluto que o reino de Deus é para elas, mas para aqueles que se lhes assemelham.
CAPÍTULO IX - BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE SÃO BRANDOS E PACÍFICOS
5. Mas o que diz Jesus por estas palavras: "Bem-aventurados aqueles que são brandos, porque eles possuirão a Terra", tendo ele dito para renunciar aos bens deste mundo e prometendo os do céu?
À espera dos bens do céu, o homem tem necessidade dos da Terra para viver; somente lhe recomendar não ligar a estes últimos mais importância do que aos primeiros.
Por estas palavras, ele quer dizer que, até esse dias, os bens da Terra estão açambarcados pelos violentos, em prejuízo daqueles que são brandos e pacíficos; que a estes, frequentemente, falta o necessário, enquanto que os outros têm o supérfluo; promete que justiça lhes será feita, na Terra como no céu, porque são chamados filhos de Deus. 
Quando a lei do amor e de caridade for a lei da Humanidade, não haverá mais egoísmo; o fraco e o pacífico não serão mais explorados, nem esmagados pelo forte e pelo violento. Tal será o estado da Terra quando, segundo a lei do progresso e a promessa de Jesus, ela tornar-se um mundo feliz, pela expulsão dos maus.
CAPÍTULO X - BEM-AVENTURADOS AQUELES QUE SÃO MISERICORDIOSOS

Instruções dos Espíritos

Perdão das Ofensas

14. Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis não sete vezes, mas setenta vezes sete. Eis uma dessas palavras de Jesus que mais devem atingir a vossa inteligência e falar mais alto ao vosso coração.
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Espíritas, não olvideis jamais de que, tanto por palavras, como por ações, o perdão das injúrias não deve ser uma palavra vã. Se vós vos dizei espíritas, sede-o pois; olvidai o mal que vos pôde fazer, e não penseis senão uma coisa: o bem que podeis realizar. Aquele que entrou neste caminho dele não deve se afastar mesmo pelo pensamento, porque sois responsáveis pelos vossos pensamentos, que Deus conhece. Fazei, pois, que eles estejam despojados de todo sentimento de rancor; Deus sabe o que permanece no fundo do coração de cada um. Feliz, pois quele que pode cada noite adormecer dizendo: Nada tenho contra o meu próximo. (SIMEÃO, Bordéus, 1862).

CAPÍTULO XI - AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO
O Maior Mandamento
1. Os Fariseus, tendo sabido que ele tinha feito calar a boca aos Saduceus, reuniram-se; e um deles, que era doutor da lei, veio lhe fazer esta pergunta para o tentar: Mestre, qual é o maior mandamento da lei? Jesus lhes respondeu: Amarei o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o  vosso espírito; é o maior e o primeiro mandamento. E eis o segundo, que é semelhante àquele: Amareis vosso próximo como a vós mesmos. Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos, (São Mateus, cap. XXII, v.34 a 40).
CAPÍTULO XII - AMAI OS VOSSOS INIMIGOS
Pagar o Mal com o Bem
3. Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar os inimigos é sua aplicação sublime, porque esta virtude é uma das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.
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Amar os inimigos não é, pois, ter para com eles uma afeição que não está na Natureza, porque o contato com um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente de um amigo; é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; é perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente o mal que nos fazem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação; é desejar-lhes o bem, em lugar de desejar-lhes o mal; é regozijar-se em lugar de se afligir pelo bem que os alcança; é lhes estender a mão segura em caso de necessidade; é abster-se, em palavras e em ações, de tudo o que possa prejudicá-lo; enfim, é lhes retribuir em tudo, o mal com o bem, sem intenção de os humilhar. Quem quer que faça isso cumpre as condições do mandamento: Amai os vossos inimigos.

CAPÍTULO XIII - QUE A VOSSA MÃO ESQUERDA NÃO SAIBA O QUE DÁ A VOSSA MÃO DIREITA
Fazer o Bem sem Ostentação
3. Fazer o bem sem ostentação é um grande mérito; ocultar a mão que dá é ainda mais meritório; é o sinal incontestável de uma grande superioridade moral; porque para ver as coisas de mais alto que o vulgo, é preciso fazer abstração da vida presente e se identificar com a vida futura; é preciso, numa palavra, colocar-se acima da Humanidade para renunciar à satisfação que proporciona o testemunho dos homens e esperar a aprovação de Deus.

CAPÍTULO XIV - HONRAI A VOSSO PAI E A VOSSA MÃE
O Parentesco Corporal e o Parentesco Espiritual
Os Espíritos que se encarnam numa mesma família, sobretudo entre parentes próximos, são, o mais frenquentemente, Espíritos simpáticos, unidos por relacionamentos anteriores, que se traduzem por sua afeição durante a vida terrestre; mas pode ocorrer também que esses Espíritos sejam completamente estranhos uns aos outros, divididos por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem da mesma forma por seu antagonismo na Terra, para lhes servir de prova. Os verdadeiro laços de família não são, pois os da consanguinidade, mas os da simpatia e da comunhão de pensamentos que unem os Espíritos antes, durante e após a sua encarnação.
CAPÍTULO XV - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO
Fora da caridade não há salvação é a consagração do princípio da igualdade diante de Deus e da liberdade de consciência; com esta máxima por regra, todos os homens são irmãos, e, qualquer que seja a sua maneira de adorar a Deus, eles se estendem as mãos e oram uns pelos outros.
CAPÍTULO XVI - NÃO SE PODE SERVIR A DEUS E A MAMON
Utilidade Providencial da Fortuna. 
Provas da Riqueza e da Miséria.
7. ... Se a riqueza é a fonte de muitos males, se ela excita tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, é preciso tomar-se não a coisa, mas ao homem que dela abusa, como abusa de todos os dons de Deus; pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser mais útil; é a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza não devesse produzir senão o mal, Deus não a teria colocado sobre a Terra; cabe ao homem dela extrair o bem. Se ela não é um elemento direto do progresso moral, é, sem contradita, um poderoso elemento de progresso intelectual.
CAPÍTULO XVII - SEDE PERFEITOS
O Homem de Bem
3. O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade em sua maior pureza. Se interroga a consciência sobre seus próprios atos, pergunta a si mesmo se não violou essa lei; se não fez o mal e se fez todo o bem que podia; se negligenciou voluntariamente uma ocasião de se útil; se ninguém tem o que reclamar dele; enfim, se fez a outrem tudo o que quereria que se fizesse para com ele.
CAPÍTULO XVIII - MUITOS CHAMADOS E POUCOS ESCOLHIDOS
Muito se Pedira Àquele que Muito Recebeu
Os médiuns que obtêm boas comunicações são ainda mais repreensíveis em persistir no mal, porque, frequentemente, escrevem a sua própria condenação e, se não estivessem cegos pelo orgulho, reconheceriam que é a eles que os Espíritos se dirigem. Mas em lugar de tomar para eles as lições que escrevem, ou que vêem escrever, seu único pensamento é de as aplicar aos outros, realizando assim estas palavras de Jesus: "Vedes um argueiro no olho do vosso vizinho, e não vedes a trave que está no vosso." (Cap. X, nr. 9).
CAPÍTULO XIX - A FÉ TRANSPORTA MONTANHAS
A Fé Divina e a Fé Humana
... o homem quando tem fé, quer dizer, a vontade de querer, e a certeza de que essa vontade pode receber seu cumprimento.
...
A fé humana ou divina, segundo o homem aplique suas faculdades às necessidades terrestres ou às suas aspirações celestes e futuras. O homem de gênio que persegue a realização de alguma grande empresa, triunfa se tem fé, porque sente em que pode e deve alcançar, e essa certeza lhe dá uma força imensa. O homem de bem, que crendo em seu futuro celeste, quer encher sua vida de nobres e belas ações, haure em sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e aí ainda se cumprem milagres de caridade, de devotamento e de abnegação. Enfim, com a fé, não existem más tendências que não se possam vencer.
CAPÍTULO XX - OS TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA
Missão dos Espíritas
Pergunta: Se muitos dos chamados ao Espiritismo se extraviaram, por qual sinal se reconhece aqueles que estão no bom caminho?
Resposta: Vós os reconhecereis pelos princípios de verdadeira caridade que eles professarão e praticarão; vós os reconheceis pelo número das aflições às quais eles terão levado consolações; vós os reconhecereis pelo seu amor ao próximo, pela sua abnegação, pelo seu desinteresse pessoal; vós os reconhecereis, enfim, pelo triunfo dos seus princípios, porque Deus quer o triunfo da sua lei; aqueles que seguem suas leis são seus eleitos, e ele lhes dará a vitória, mas esmagará aqueles que falseiam o espírito dessa lei e fazem dela um meio para satisfazer sua vaidade e sua ambição. (ERASTO, anjo guardião do médium, Paris, 1863).
CAPÍTULO XXI - HAVERÁ FALSOS CRISTOS E FALSOS PROFETAS
Não acrediteis em todos os Espíritos
...
São João adverte contra eles, quando diz: "Meus bem-amados, não acrediteis em todos os Espíritos, mas experimentai se os Espíritos são de Deus; porquanto vários falsos profetas se erguem no mundo." O Espiritismo dá os meios de os provar indicando os caracteres pelos quais se reconhecem os bons Espíritos, caracteres sempre morais e jamais materiais (1). É no discernimento entre os bons e os maus Espíritos  que podem sobretudo ser aplicadas estas palavras de Jesus: "Reconhece-se a qualidade da árvore pelo fruto; uma boa árvore não pode produzir maus frutos, e uma árvore má não pode produzir bons frutos". Julgam-se os Espíritos pela qualidade de suas obras, como uma árvore pela qualidade dos seus frutos.
CAPÍTULO XXII - NÃO SEPAREIS O QUE DEUS JUNTOU
Indissolubilidade do Casamento
3. Mas na união dos sexos, ao lado da lei divina material, comum a todos os seres vivos, há uma outra lei divina, imutável, como todas as leis de Deus, exclusivamente moral e que é a lei do amor. Deus quis que os seres estivessem unidos não somente pelos laços da carne, mas pelos da alma, a fim de que a afeição mútua dos esposos se transportasse para seus filhos, e que eles fosses dois, em lugar de um, a amá-los, a cuidá-los e fazê-los progredir.
CAPÍTULO XXIII - MORAL ESTRANHA
Deixai os Mortos o Cuidado de Enterrar seus Mortos
A vida espiritual, com efeito, é a verdadeira vida; é a vida normal do Espírito; sua existência terrestre não é senão transitória e passageira; é uma espécie de morte comparada ao esplendor e à atividade da vida espiritual. O corpo não é senão uma veste grosseira que reveste momentaneamente o Espírito, verdadeira cadeia que o prende à gleba da Terra, e da qual se sente feliz de estar livre. O respeito que se tem pelos mortos não se prende à matéria, mas, pela lembrança, ao Espírito ausente; é análogo àquele que se tem pelos objetos que lhe pertenceram, que tocou, e que aqueles que o amam guardam como relíquias. É o que esse homem não poderia compreender por si mesmo; Jesus lho ensina, dizendo: Não vos inquieteis com o corpo, mas pensai antes no Espírito; ide ensinar o reino de Deus; ide dizer aos homens que sua pátria não está na Terra, mas no céu, porque lá somente está a verdadeira vida.
CAPÍTULO XXIV - NÃO COLOQUEIS A CANDEIA SOB O ALQUEIRE
Os Sãos não têm Necessidade de Médico
Digamos primeiro que a mediunidade se prende a uma disposição orgânica da qual todo homem pode estar dotado, como a de ver, de ouvir, de falar. Não há uma da qual o homem, em virtude do seu livre-arbítrio, não possa abusar, e se Deus não houvesse concedido a palavra, por exemplo, senão aos que são incapazes de dizer coisas más, haveria mais mudos que falantes. Deus deu ao homem as faculdades e o deixa livre para usá-las, mas pune sempre aquele que delas abusa.
...
A mediunidade não implica, necessariamente, em intercâmbio habitual com os Espíritos superiores; é simplesmente uma aptidão para servir de instrumento mais ou menos flexível aos Espíritos em geral. O bom médium não é, pois, aquele que comunica facilmente, mas aquele que é simpático aos bons Espíritos, e não é assistido senão por eles. É neste sentido somente que a excelência das qualidades morais tem tanto poder sobre a mediunidade.
CAPÍTULO XXV - BUSCAI E ACHAREIS
Observai os Pássaros do Céu
6. Não ajunteis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes os corroem, onde os ladrões os desenterram e roubam; mas formai tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os corroem; porque onde está o vosso tesouro, aí também está o vosso coração.
Por isso eu vos digo: Não vos inquieteis por saber onde achareis do que comer para o sustento da vossa vida, nem de onde tirareis roupa para cobrir o vosso corpo; a vida não é mais do que o alimento, e o corpo mais do que a roupa?
Observai os pássaros do céu: eles não semeiam e não colhem, e não amontoam nada nos celeiros, mas vosso Pai celestial os alimenta; não sois muito mais do que eles? E quem é, dentre vós, aquele que pode, com todos os seus cuidados, aumentar à sua estatura a altura de um côvado?
Por que também vos inquieteis pela roupa? Observai como crescem os lírios dos campos; eles não trabalham e não fiam; e, no entretanto, eu vos declaro que Salomão, mesmo em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. Se, pois, Deus tem o cuidado de vestir dessa maneira a erva dos campos, que hoje existe e que amanhã será lançada no fogo, quanto mais cuidado terá em vos vestir, oh homens de pouca fé!
Não vos inquieteis, pois, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou de que nos vestiremos? como fazem os pagãos que procuram todas essas coisas; porque vosso Pai sabe que delas tendes necessidade.
Procurai, pois, primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo. Por isso, não estejais inquietos, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã, cuidará de si mesmo. Acada dia basta o seu mal. (São Mateus, cap. VI, v. de 19 a 21 e 25 a 34).
CAPÍTULO XXVI - DAI GRATUITAMENTE O QUE RECEBESTES GRATUITAMENTE
Mediunidade Gratuita
10. A mediunidade é uma coisa santa que deve ser praticada santamente, religiosamente. Se há um gênero de mediunidade que requer essa condição de forma ainda mais absoluta, é a mediunidade curadora. O médico dá o fruto dos seus estudos, que fez ao preço de sacrifícios, frequentemente penosos; o magnetizador dá o seu próprio fluido, frequentemente mesmo a sua saúde: eles podem a isso pôr um preço; o médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos; ele não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, conquanto pobres, não faziam pagar as curas que operavam.
CAPÍTULO XXVII - PEDI E OBTEREIS
Ação da Prece. Transmissão do Pensamento
11. Pela prece, o homem chama para si o concurso dos bons Espíritos, que vêm sustentá-lo nas suas boas resoluções, e inspirar-lhe bons pensamentos; adquire, assim, a força moral necessária para vencer as dificuldades e reentrar no caminho reto se dele se afastou, assim como afastar de si os males que atrai por sua própria falta. Um homem, por exemplo, vê a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim de seus dias, uma vida de sofrimentos; ele tem o direito de se lamentar, se não obtém a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações.
  CAPÍTULO XXVIII - COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS
I - Preces Gerais
Reuniões Espíritas
6. PRECE. (No início da reunião). Rogamos aos Senhor Deus Todo-Poderoso nos enviar bons Espíritos para nos assistir, afastar aqueles que poderiam nos induzir em erro, e nos conceder a luz necessária para distinguirmos a verdade da impostura.
Afastai também os Espíritos malévolos, encarnados ou desencarnados, que poderiam tentar lançar a desunião entre nós, e nos desviar da caridade e do amor ao próximo. Se alguns procurarem se introduzir aqui, fazei com que não encontrem acesso no coração de nenhum de nós.
Bons Espíritos, que vos dignai vir nos instruir, tornai-nos dóceis aos vossos conselhos; afastai de todo pensamento de egoísmo, de orgulho, de inveja e de ciúme; inspirai-nos a indulgência e a benevolência para com os nossos semelhantes presentes ou ausentes, amigos ou inimigos; fazei, enfim que, nos sentimentos dos quais estaremos animados, reconheçamos a vossa salutar influência.
Dai aos médiuns, que encarregardes de nos transmitir os vossos ensinamentos, a consciência da santidade do mandato que lhes está confiado e da gravidade do ato que vão realizar, a fim de que nele empreguem o fervor e o recolhimento necessários.
Se, na assembléia, se encontrarem pessoas que foram atraídas por outros sentimentos que não os do bem, abri seus olhos à luz, e perdoai-lhes, como nós lhes perdoamos, se vierem com intenções malévolas.
Rogamos, notadamente ao Espírito de N..., nosso guia espiritual, para nos assistir e velar sobre nós.
                   II - Preces para si Mesmo
    Para Pedir a Corrigenda de um Defeito
19. PRECE. Vós que me destes, ó meu Deus, a inteligência necessária para distinguir o que é bem do que é mal; ora, do momento em que eu reconheço que uma coisa é má, sou culpado por não me esforçar em resistir a ela.
Preservai-me do orgulho, que poderia me impedir de aperceber-me dos meus defeitos, e dos maus Espíritos, que poderiam me excitar a neles perseverar.
Em minhas imperfeições, reconheço que sou particularmente inclinado à ... e não resisto a esse arrastamento é pelo hábito que contraí a ele ceder.
Não me criastes culpado, porque sois justo, mas com uma aptidão igual para o bem e para o mal; se sigo o mau caminho, é por efeito do meu livre-arbítrio. Mas, pela mesma razão que tenho a liberdade de fazer o mal, tenho a de fazer o bem; por conseguinte, tenho a de mudar de caminho.
Meus defeitos atuais são um resto das imperfeições que conservei das minhas precedentes existências; é o meu pecado original, do qual posso me desembaraçar com minha vontade e com a assistência dos bons Espíritos.
Bons Espíritos que me protegeis, e sobretudo vós, meu anjo guardião, dai-me a força de resistir às más sugestões, e de sair vitorioso da luta.
Os defeitos são as barreiras que nos separam de Deus, e cada defeito superado será um passo dado na senda do progresso, que dele me há de aproximar.
O Senhor, em sua infinita misericórdia, houve por bem conceder-me a assistência atual, para que sirva ao meu adiantamento; bons Espíritos, ajudai-me a aproveitá-la, a fim de que não se torne perdida para mim, e que, quando a Deus aprouver ma retirar, eu dela saia melhor do que entrei. (Cap. V, nr. 5; cap. XVII, nr. 3).
  Nas Aflições da Vida
                        Num Perigo Iminente
35. PRECE. Deus Todo-Poderoso, e vós meu anjo guardião, socorrei-me! Se devo sucumbir, que a vontade de Deus seja feita. Se eu for alvo, que o resto da minha vida repare o mal que pude fazer e do qual me arrependo.